Primeiro suspeito da morte de Maradona, enfermeiro depõe ao Ministério Público na Argentina
O enfermeiro Ricardo Omar Almirón, uma das últimas pessoas a ver o ídolo Diego Maradona com vida, foi o primeiro de sete suspeitos de "homicídio simples com dolo eventual" do craque a depor nesta segunda-feira, 14, perante o Ministério Público.
Almirón, de 37 anos, era o cuidador noturno de Maradona. O MP suspeita de que ele mentiu, ao afirmar que o ex-capitão da seleção argentina dormia e respirava normalmente, poucas horas antes de sua morte, quando a necropsia revelou que ele agonizava.
O enfermeiro chegou após o meio-dia à sede do MP em San Isidro, nas proximidades de Buenos Aires, onde permaneceu por mais de sete horas antes de deixar o local com seu advogado, Franco Chiaparelli.
"Meu cliente sempre tratou Maradona como um paciente com uma complexidade psiquiátrica, uma questão ligada à abstinência, mas nunca lhe entregaram um diagnóstico de qualquer questão ligada a cardiopatia", afirmou Chiarelli à imprensa quando se aposentou do Ministério Público.
Segundo o advogado, o enfermeiro explicou em seu depoimento qual foi sua tarefa durante a última internação domiciliar do astro.
Diante dos promotores, Almirón insistiu que, embora "tivesse ordem para não acordá-lo", conseguiu constatar que Maradona estava vivo e apresentava sinais vitais antes das sete da manhã do dia 25 de novembro de 2020, quando trocou de turno com outra enfermeira, cerca de cinco horas antes dele ser encontrado morto na cama, contou o advogado.
"Foi indicado por seus superiores que não incomodasse o paciente (Maradona). Meu cliente teve a sabedoria de poder cumprir sua tarefa sem que o paciente se sentisse invadido, que era algo com que teve que lidar todo o tempo que esteve lá", ressaltou o advogado.
Lenda mundial do futebol, Maradona faleceu em 25 de novembro de 2020 de uma crise cardiorrespiratória, aos 60 anos. Ele estava sozinho em seu leito de convalescença de uma neurocirurgia e de outras enfermidades, em uma residência no bairro de San Andrés, ao norte de Buenos Aires.
O Ministério Público se recusou a classificar a morte como "fato culposo, ou involuntário", o que implicaria "negligência, ou imprudência", mas a classificou como "dolo eventual", ao detectar "falsidades" nos relatórios sobre o estado de saúde do ex-jogador.
A acusação considera que os médicos e os cuidadores não cumpriram seu dever para com Maradona, "apesar de sua delicada situação e com conhecimento de que, muito provavelmente, tal omissão levaria ao desfecho fatal que finalmente ocorreu". A pena é de oito a 25 anos de prisão.
- "Abandonado à própria sorte" -
As acusações foram feitas após um duro informe de uma junta de 20 peritos, segundo o qual o tratamento de saúde aplicado foi "inadequado, deficiente e temerário" e que Maradona "foi abandonado à própria sorte".
Os suspeitos podem se recusar a testemunhar. O juiz do caso decidirá, para cada um, se determinará o arquivamento, ou o processo. Nesta situação, haverá um julgamento oral que poderá levar meses, ou anos.
As próximas declarações indagatórias serão na próxima quarta-feira, da enfermeira Dahiana Gisella Madrid e do coordenador Mariano Ariel Perroni, funcionários de uma empresa contratada para cuidar do ex-campeão mundial na Copa do México-1986.
As audiências serão concluídas em 28 de junho, data em que será ouvido um dos principais réus, o neurocirurgião Leopoldo Luque.
Os demais suspeitos são a coordenadora de internação domiciliar Nancy Edith Forlini, o psicólogo Carlos Ángel Díaz e a psiquiatra Agustina Cosachov.
Luque e Cosachov são acusados como os principais responsáveis pela saúde de Maradona.
Em 30 de outubro de 2020, o astro fez sua última aparição em público,
apesar do mal estado de sua saúde. Foi na comemoração de seus 60 anos
no estádio do Gimnasia y Esgrima La Plata, equipe dirigida por ele. *AFP
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