Joseph Blatter e Michel Platini voltam ao tribunal por caso de fraude
Quase três anos depois de terem sido absolvidos em primeira instância, o ex-presidente da FIFA
Joseph Blatter e o ex-presidente da UEFA Michel Platini voltaram nesta
segunda-feira ao tribunal, após o recurso da promotoria, pelo caso de
fraude de quando eram dirigentes.
Até quinta-feira, o Tribunal de Apelação Extraordinário do Tribunal
Penal Federal, reunido em Muttenz, no noroeste da Suíça, julgará Blatter
(88 anos) e Platini (69 anos) por "fraude", "gestão desleal", "abuso de
confiança" e "falsificação de documentos".
Ambos podem ser condenados por até cinco anos de prisão, e a decisão deve sair no dia 25 de março.
"Um contrato é um contrato, a palavra é a palavra. A FIFA me devia esse
dinheiro", se defendeu Platini. O ex-jogador da seleção francesa e
presidente da UEFA de 2007 a 2015, agora vive longe dos holofotes em
Cassis, perto de Marselha, depois que o caso acabou com suas aspirações
de presidir a FIFA.
Antes, a partir de 1998, trabalhou para que o suíço Joseph Blatter se
tornasse presidente da FIFA e foi seu conselheiro, uma função que
exerceu "sem contrato nem remuneração". Até que em meados de 1999,
Blatter lhe perguntou sobre suas pretensões salariais: "Como eu não
conhecia nada desse mundo, do mundo da FIFA, disse ao acaso 'um milhão'
(...) Ele me perguntou 'um milhão de que?', e eu quis brincar e disse
'um milhão do que você quiser: rublos, pesetas, liras'. E Blatter disse
'um milhão de francos suíços'", relatou Platini.
Acordo verbal?
Este episódio está no centro do caso, pelo qual a promotoria acusa os
dois ex-dirigentes de terem obtido ilegalmente, em detrimento da FIFA,
um pagamento de 2 milhões de francos suíços (cerca de R$ 13 milhões na
cotação atual) a favor de Michel Platini.
No primeiro julgamento, em 2022, os juízes estimaram que a fraude "não
foi provada com um grau de probabilidade que se aproxime da certeza" e,
por esse benefício da dúvida, ambos foram absolvidos.
Defesa e acusação concordam em um ponto: Platini trabalhou como assessor
de Blatter entre 1998 e 2002, durante o primeiro mandato do suíço à
frente da FIFA, e ambos assinaram em 1999 um contrato que incluía uma
remuneração anual de 300 mil francos suíços (aproximadamente R$ 2
milhões), integralmente bancada pela FIFA.
Mas em janeiro de 2011, "mais de oito anos depois do final de sua
atividade como assessor", o ex-jogador francês recebeu esses dois
milhões de francos suíços da FIFA de Blatter.
Para a acusação, trata-se de um pagamento "sem fundamento", obtido por
um meio que burla "absolutamente" os controles internos da FIFA, o que
justifica a acusação de fraude.
Os dois ex-dirigentes insistem que esse dinheiro corresponde ao
pagamento da diferença salarial acordada em 1999, quando Blatter disse a
Platini: "Não posso te pagar um milhão, não tenho dinheiro", antes de
dizer que pagaria quando a FIFA tivesse condições financeiras, reiterou o
francês nesta segunda-feira.
A sombra de Infantino
Blatter repetiu durante a audiência que Platini "valia esse milhão",
confirmando um "acordo de cavalheiros", sem testemunhas e que nunca foi
registrado nas contas da FIFA.
Tanto Platter como Platini denunciaram o possível papel do atual
presidente da FIFA, Gianni Infantino, no início da investigação.
O dirigente ítalo-suíço foi o número 2 de Platini na UEFA e quando o
francês ficou fora do páreo por conta do escândalo, Infantino surgiu
como candidato e venceu a eleição em 2016.
Infantino também foi alvo de um processo na Suíça em 2020 por três
reuniões secretas com o ex-chefe da promotoria. Os tribunais suíços
arquivaram a investigação em 2023. *AFP
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